23 de julho de 2015

Restos Humanos - Elizabeth Haynes

Tempo de leitura:
(Título original: Human Remains
Tradutor: Mauro Pinheiro
Editora: Intrínseca
Edição de: 2014)

Vá para casa. E tranque a porta.

Você conhece bem seus vizinhos? Saberia dizer se eles estão vivos ou mortos?

Ao encontrar por acaso o corpo de uma vizinha em avançado estágio de decomposição, Annabel Hayer, que trabalha com análise de informações para a polícia, fica horrorizada ao pensar que ninguém, incluindo ela mesma, percebeu que havia algo errado.  

De volta ao trabalho, ela se sente compelida a investigar o assunto, apesar da falta de interesse de seus colegas, e encontra dados que mostram o aumento assustador de casos como esse naquele ano em sua cidade natal. Conforme aprofunda sua investigação, Annabel parece cada vez mais convencida de estar diante de um crime terrível e é obrigada a enfrentar os próprios demônios e a própria fragilidade. Será que alguém perceberia se ela simplesmente desaparecesse?

Um thriller psicológico extremamente perturbador, Restos Humanos fala de nossos medos mais obscuros, mostrando como pessoas que vivem sozinhas podem ser vulneráveis - e a facilidade com que vidas podem ser destruídas quando não há ninguém que se importe com elas. 


Palavras de uma leitora...


"Ela se fora, completamente, sem deixar o menor vestígio, como se nunca tivesse existido."


Era incrível como uma pessoa poderia simplesmente desaparecer... 

Às vezes ela se perguntava se em algum momento estivera ali... se realmente chegara a existir. Ou se talvez partira antes que pudesse se dar conta. 

Todos os dias ela se levantava para ir ao trabalho. Alimentava sua gata, chegava antes de todos e permanecia ali durante horas, fazendo análises de informações para a polícia, ouvindo a conversa animada de seus colegas sem jamais fazer parte daquele ambiente. Era como se ninguém a enxergasse. E se a viam, preferiam ignorá-la, como se ela não valesse o tempo deles ou sua amizade... algo que ela ansiava muito por ter, mas sabia que jamais teria. Nunca tivera amigos. E já trabalhava três anos com aquelas pessoas sem que elas manifestassem o menor interesse por ela. Era realmente como se ela não existisse...

E o que era ruim fica ainda pior quando, ao voltar para casa após mais um dia de trabalho, ela acaba por encontrar o corpo de uma vizinha, já em avançado estágio de decomposição. Fazia meses que aquela mulher estava morta, esquecida por todos, e se ela não tivesse encontrado o corpo... quanto tempo teria se passado até que alguém percebesse? Talvez semanas, mais meses... ou quem sabe anos. 

"E minha vida era um tremendo desperdício. Uma grande ruína do que outrora havia sido bom. Tudo me fora arrancado, deixando aquele vazio, aquele abismo de dor e sofrimento."

Profundamente perturbada por jamais ter considerado que algo pudesse ter acontecido com sua vizinha, que ela não via muitos meses antes de encontrar seu corpo, Annabel decide investigar quantas pessoas teriam sido encontradas nas mesmas condições em sua cidade naquele ano. E o resultado de sua pesquisa a deixa em choque. 24 corpos, em avançado estágio de decomposição, foram encontrados só naquele ano. Se as coisas seguissem assim, quantos outros apareceriam nos próximos meses? Sentindo que algo terrivelmente errado está por trás de tais mortes, ela procura a ajuda da polícia, que não mostra o menor interesse em suas suspeitas. Determinada a encontrar uma resposta para aquele mistério, Annabel mal poderia imaginar que estava bem perto de se tornar mais uma vítima... fosse o que (ou quem) fosse que estava por trás de tudo aquilo... 

"Eu estava sob essa nuvem e não havia como sair, não havia escapatória. Era como estar num labirinto em que cada passagem que você escolhesse fosse errada, todas as passagens levando a um beco sem saída. Exceto uma. Havia uma passagem que era a saída. Só precisava encontrá-la."

- Nem sei por onde começar... Quando comecei a leitura deste livro, eu não sabia bem o que esperar. Talvez algo como No Escuro. No entanto, esta história é bem diferente. De um jeito extremamente perturbador. De um jeito que eu preferia esquecer. 

- A maior parte do tempo eu desejei chorar. Não só porque choro com facilidade, mas porque não existe maneira de não ser atingida por esta história. Pela história das diversas pessoas que passam pelo livro. Que passam pela vida. Eu pude sentir de perto a angústia delas, toda aquela dor, todo aquele vazio e o grito de socorro que elas jamais conseguiram dar. A espera por uma ajuda que nunca chegou. Quando suas próprias famílias lhes viraram as costas. Quando nada na vida fazia qualquer sentido. Pessoas num estado de grande vulnerabilidade, nas quais se poderia enxergar o desespero em seus olhos, a vida abandonando-as pouco a pouco. E o mais triste era saber que se alguém tivesse estendido uma mão, as teria salvado. 

"Andava pensando com frequência em Shelley Burton e em todos os outros, aquelas pessoas, aquelas pobres pessoas, sozinhas em suas casas na hora da morte, esperando para serem acolhidas pelos anjos, mas continuavam na terra, sabendo que iam ficar ali, apodrecendo, sem amor, ignoradas, desrespeitadas. [...] Eu me perguntei se elas realmente sabiam o que estavam fazendo, ou se a vida as havia tratado tão mal que a necessidade de morrer se tornara uma força maior do que a terrível perspectiva do que poderia lhes acontecer em seguida."

- Apesar do aumento significativo do número de mortes por "causas naturais" que ocorriam na cidade de Annabel no último ano, nenhuma investigação tivera início. Muitos dos casos foram considerados suicídios e descartados. Para os médicos-legistas e a polícia aquelas pessoas simplesmente resolveram deixar de viver. E era lamentável todas elas só terem sido encontradas vários meses após a morte, mas não existia crime nisso. Pelo menos, aparentemente. Mas quando uma ligação anônima informa a localização de mais um corpo e diz ainda haver muitos outros... eles finalmente são obrigados a encarar, perplexos, que talvez alguém esteja provocando essas mortes. Mas como? E o mais importante: por quê?

"Era ele que podia mudar tudo, que aparecera para mim quando eu mais precisava dele, quando estava desesperada, triste e solitária. Ele surgiu para mim e me mostrou qual caminho deveria seguir."

- Perturbador do início ao inevitável fim, Restos Humanos é uma história que eu desejei muito ler e temi demais a leitura na mesma medida. Eu ficava olhando para o livro na estante e muitas vezes o pegava, folheava suas páginas, relia a sinopse, desejando ter coragem de iniciar a leitura. Mas sentindo que seria algo impactante. Marcante e talvez de um jeito nada positivo.  

Durante a leitura minhas emoções ficaram descontroladas. E uma grande revolta tomou conta de mim ao ver a incompetência das pessoas que estavam à frente daquela investigação. Mas não foi só isso que me revoltou. A história daquelas vítimas me abalou demais. Me provocou pesadelos, lágrimas e uma enorme tristeza. Eu desejei muito que alguém as tivesse salvado. Que alguém tivesse olhado para elas mais de uma vez e tivesse se importado o suficiente para puxá-las do fundo daquele poço. Mas ninguém apareceu. Por mais coisas que eu já tenha visto, o egoísmo do ser humano ainda é capaz de me surpreender. 

- Apesar de ter dado 5 estrelas ao livro, porque ele é realmente digno disso, não sou capaz de recomendá-lo. Como a sinopse diz (e muito bem) é "um thriller psicológico extremamente perturbador", sombrio, que te golpeia, te abala e faz com que suas emoções fiquem completamente descontroladas. Não sei bem o que sinto no momento e já faz horas que terminei a leitura. Só o que sei é que a vida tem uma enorme capacidade para ser cruel. E o mais incrível é que os piores golpes vêm sempre de quem mais amamos...

"Ele sorriu para mim, e me senti segura e tranquila, porque sabia que ele era o meu anjo e estava ali, tomando conta de mim. 
- Durma - disse ele, sua voz não passava de um sussurro. [...]
Eu me encostei no travesseiro e fechei os olhos."

Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

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