28 de dezembro de 2016

Falsa Submissão - Laura Reese

Tempo de leitura:
(Título Original: Topping From Below
Tradutora: Claudia Costa Guimarães
Editora: Record
Edição de: 2012)


Um thriller erótico e explosivo.

Duas irmãs embarcam em uma viagem aterrorizante ao entrarem em um jogo de sedução mortal, orquestrado por um homem que não conhece limites.

Chicotes, roupas justas de vinil, correntes, um cachorro dinamarquês. O prazer bizarro do sadomasoquismo não fazia muito sentido para Nora Tibbs, jornalista de uma pequena cidade na Califórnia, até sua irmã Franny, uma tímida enfermeira, ser brutalmente assassinada. Obcecada pela ideia de encontrar o criminoso, Nora se deixa conduzir pelo misterioso M. - o mesmo homem com quem a irmã havia se envolvido antes de ser torturada e morta - por um mundo de jogos eróticos perversos, descobrindo os desejos mais primitivos e sensações antes inimagináveis.

Disposta a ultrapassar os próprios limites para investigar o estranho universo que Franny conhecera antes de morrer, Nora experimenta um novo tipo de prazer na dor e na submissão, e fica dividida entre o amor carinhoso do namorado Ian e o magnetismo excêntrico de M., que a atrai de uma maneira inexplicável.

Ela só não desconfia que a morte acompanha seus passos e pode até estar ao seu lado na cama.




Palavras de uma leitora... 



- Esta resenha pode conter SPOILER!!!! Depois não digam que não avisei!rs


"Escreveu sobre M., sobre as coisas que ele fazia com ela, sobre sua humilhação e seu desespero. A perversidade, sutil e insinuante, perpassa suas palavras. [...] Como um câncer em metástase, ele entrou em sua vida com o intuito de destruí-la."

Algo do que eu não tenho a menor dúvida... Faz séculos que este livro está na minha lista de leituras. E ainda que eu não soubesse tudo que encontraria em suas páginas, sabia que era pesado. Muito pesado. E ao ler a sinopse, eu já imaginava o quanto era cruel a mente por trás do tormento de Franny. 

Logo de início, entramos no mundo dela, da jovem de 24 anos brutalmente assassinada e encontrada só duas semanas depois em seu próprio apartamento. É impossível não sentirmos uma imensa sensação de impotência enquanto a vemos caminhar cada vez mais para dentro da realidade do Michael, uma realidade da qual ela não conseguiria escapar. Um mundo obscuro que demoraria apenas alguns meses para destruir o que restasse de sua vida. Não é justo tudo o que ela sofre, quantas vezes tenta pedir ajuda para uma irmã que estava ocupada demais vivendo a própria vida para perceber que algo estava errado... muito errado. 

"Os maus não chegam até nós vestidos de preto. Nem tampouco irradiam uma energia maligna. Eles não se distinguem de seus vizinhos."

Franny sabia bem o que era estar sozinha. Desde a morte de seu irmão, quando ela tinha apenas 13 anos, o mundo seguro que ela até então conhecia foi desmoronando... A culpa era uma constante companhia, aumentando sua solidão, sua dor e a certeza de que um dia teria que pagar pelo que tinha feito. Um ano depois, seus pais também partiram e ela foi entregue à Nora, sua irmã, que estava envolvida demais com seu trabalho e sua vida para perceber que a menina tímida, com cabelos extremamente curtos e gordinha, bem diferente da irmã que ela um dia tinha conhecido, estava implorando por socorro. Por uma ajuda que ninguém daria. E que só a tornaria uma presa ainda mais fácil para Michael.

"Ele destruiu Franny, e o fez deliberadamente, metodicamente e sem remorso."

Os anos se passaram... Escondendo dentro de si a sua dor, Franny terminou a escola e cursou enfermagem, dedicando-se especialmente aos pacientes renais, que sofriam da mesma doença que fragilizara seu irmão pouco antes de sua morte. Ela queria fazer algo de útil. Fazer por seus pacientes o que não pudera fazer por Billy. Talvez isso aliviasse um pouco a sua culpa... Quando estava na clínica, envolvida no dia a dia daquelas pessoas, sua timidez desaparecia. Era uma pessoa segura, competente, e seus pacientes raramente tinham alguma complicação enquanto estavam sob seus cuidados. Mas da porta pra fora... ela era de novo uma garota insegura, que não olhava nos olhos e se sentia desconfortável quando alguém a notava. E ele a observou por semanas antes de decidir que era o momento certo para se aproximar...

"Beijou-a no pescoço e disse:
- Eu vou lhe dar o que quer, Franny."

- Mesmo atormentada pela dor e pela culpa durante anos, seu coração não deixava de desejar o amor. Uma família, um marido que a amasse acima de tudo e lhe protegesse, filhos para os quais ela daria todo o seu amor e que também a amariam incondicionalmente. Só queria o que quase todos queriam. Ser feliz. Mas, lá no fundo, não se julgava digna de nada. Sabia que seus sonhos jamais se realizariam.

Porém, quando Michael, aquele homem misterioso e irresistível, que parecia enxergar todos os seus segredos e desejos mais profundos, invade sua vida, escolhendo a ela quando poderia ter qualquer uma... ela volta a ter fé. A acreditar que talvez, apenas talvez, consiga se perdoar e construir um futuro ao seu lado. 

"Não me apaixono com facilidade, mas fico feliz em receber o seu amor. [...] Sabe o que isso quer dizer, não sabe? [...] Quer dizer [...] que agora você é oficialmente minha namorada. Isso me dá direitos territoriais sobre o seu corpo. Dá a mim interesses de proprietário sobre você. Agora, você me pertence."

- No início, Franny acredita estar vivendo um conto de fadas, mas ao confessar seu amor por ele, dá a Michael as armas necessárias para começar o lento e doloroso caminho que a levaria à morte. Era tudo que ele precisava para assumir de vez o controle: seu amor. A certeza de que, fizesse o que fizesse, ela não o deixaria. Não teria forças suficientes para abandoná-lo. Sabia que tinha feito bem a sua escolha. Não existia presa mais fácil do que ela. 

Prisioneira do amor que sente por Michael, e cada vez mais envolvida por sua capacidade de manipular e distorcer as coisas para que ela acreditasse que tudo o que ele fazia era normal, a felicidade com a qual um dia ela sonhou vai se tornando mais e mais distante e Franny já não era capaz de recordar um dia em que não chorasse, e o medo a invadia sempre que ia à sua casa, pois não conseguia imaginar que nova crueldade ele faria com ela. Que novas feridas lhe provocaria, física e emocionalmente.

"Uma onda de pânico percorreu seu corpo. 
- Michael, por favor. Não... - Mas ele enfiou um pedaço de pano em sua boca e suas palavras saíram arrastadas, abafadas."

Num diário, ela escreveu parte do período que passou ao lado de Michael, omitindo os detalhes que não suportaria colocar em palavras, nem mesmo para que apenas ela lesse. Mas seus relatos terminam poucas semanas antes de sua morte, fazendo com que permanecesse em segredo os acontecimentos que antecederam seu último dia... Dificultando que a polícia obtivesse alguma prova que Michael a assassinara.

Embora fosse evidente que ela havia sido torturada antes de morrer, a causa da morte seguia sendo um mistério e ainda que ele tivesse sido preso como suspeito, não demorou a ser liberado, pois não existia nada, além do seu envolvimento sádico com a Franny, que provasse que ele estivera em seu apartamento e a matara. Nada. Absolutamente nada que o ligasse à cena do crime. E com o passar dos meses, a polícia parece ainda mais longe de encontrar o assassino e Michael, embora siga sendo o principal suspeito, leva sua vida normalmente, como professor de música numa universidade local, alguém que qualquer um que visse jamais consideraria capaz de cometer um crime tão brutal. Mas a maldade... nem sempre é evidente.

"Uma lágrima rolou em meu rosto. Ela não merecia morrer daquela forma. E naquele instante, ainda sentada em seu sofá, jurei que, se a polícia não encontrasse seu assassino, eu encontraria."

- Nora Tibbs um dia considerara o trabalho tudo em sua vida. Não era dada a estabelecer laços emocionais com ninguém, possuía uma irmã e uma melhor amiga e essas eram as pessoas com as quais era mais próxima, ainda que visse Franny apenas uma vez por mês e sempre com pressa para que o encontro terminasse o mais rápido possível. Não é que não gostasse dela. Na verdade, a amava. Mais que tudo. Só que eram simplesmente diferentes demais, não tendo nada em comum nem para conversar. Franny era tímida, tendo medo até da própria sombra, enquanto Nora era descontraída, alegre e trocava de namorado como quem troca de roupa. Porém, quando recebe a notícia de sua morte, todo o mundo de Nora desaba. O trabalho, os homens, as festas, tudo deixa de ter importância. A dor é insuportável, e com ela vem a certeza de que, de alguma forma, era culpada. Tinha contribuído para que a vida da irmã terminasse daquela maneira. Onde ela estava enquanto sua irmã era torturada? Ocupada como sempre. Franny lhe telefonara. Diversas vezes. E ela não retornara suas ligações. Estava ocupada demais com a própria vida, enquanto a irmã estava a apenas poucos dias da morte.

"Quero que o tempo volte. Quero colocar Franny na pia da cozinha, cheia de água morna e espuma, e vê-la rir, tentando estourar as bolhinhas com os dedinhos gorduchos."

Dez anos mais velha que Franny, Nora foi uma segunda mãe para a irmã quando ela nasceu. Jamais sentiu um amor tão forte como aquele sentimento que a invadiu quando a pegou pela primeira vez em seus braços. Sabia que faria qualquer coisa por aquele ser tão pequeno e que sorria para ela, com tanta confiança. Mas conforme os anos se passavam e ela atingia a adolescência, enfrentando os desafios e problemas daquela fase, ia se afastando cada vez mais da irmã, do irmão e dos pais... E quando ingressou na faculdade, se mudou cortando quase por completo os laços que um dia a uniram tanto àquelas pessoas. E durante muitos e muitos anos ela não admitira nem para si mesma os motivos que a levaram a simplesmente partir. A negar dentro de si mesma o amor que ainda sentia. Era seu segredo. Eram os seus pecados. 

"Dos dezoito aos vinte e quatro anos, quando Franny veio morar comigo, tenho muito poucas recordações bem-definidas dela: quando eu ia para casa para as festas de aniversário, no Natal, no enterro de Billy, quando ela se escondia ao fundo, como que em transe, sem falar com ninguém. [...] O processo de negligência já começara. Ela precisava de mim, mas eu nunca notei."

Quando Nora está com 24 anos, sua irmã é entregue aos seus cuidados, pois seus pais haviam morrido num acidente de carro e ela era tudo que restava àquela menina. Envolvida com a correria do seu dia a dia, praticamente deixara Franny por conta própria, mal possuindo recordações dos anos que ela passou em sua casa. Depois, quando a irmã se mudara para viver a própria vida, os encontros se resumiam a um almoço uma vez por mês e ligações extremamente raras. Sabia que tinha sido egoísta. Sabia que pensara demais em si mesma, não enxergando aquilo que não queria ver, para que nada atrapalhasse a segurança de seu próprio mundo. Tinha consciência de que falhara com a irmã de muitas maneiras e que, se tivesse prestado atenção, talvez ela ainda estivesse viva. 

Tomada pela dor e pelo remorso, Nora pede licença do trabalho e inferniza a polícia durante meses, querendo ver o assassino de sua irmã atrás das grades, de preferência, no corredor da morte. E quando os detetives passam a evitá-la e o tempo continua passando sem que nenhuma prova capaz de condená-lo apareça, ela percebe que se não cuidar do caso sozinha, o doente que destruíra a vida de sua irmã seguiria passeando livremente pelas ruas, em busca de mais uma vítima. Não o deixaria escapar. Não falharia com Franny uma vez mais. 

"Haverá um final diferente desta vez, disto eu tenho certeza. Tanto para M. quanto para mim."

Determinada a descobrir como e por que Michael matara sua irmã, Nora se aproxima perigosamente de sua vida, colocando a si mesma como isca, não fazendo a menor ideia de no que está prestes a entrar e como será impossível sair. Ainda que tenha a certeza de que ele matou Franny, ela se considera forte o suficiente para manipulá-lo, para sair incólume do jogo que iniciara ao procurá-lo. Só que naquele jogo em particular... Michael era um mestre. E as chances de que ela perdesse bem mais do que o controle sobre o próprio corpo e a mente... eram enormes. Naquele jogo, sua vida corria sérios riscos. 

"De qualquer ângulo que encarar a coisa, Nora, verá que boa coisa ele não é. Faça-se o favor de ficar o mais longe que puder daquele homem. Volte a viver sua vida."

Afastar os outros sempre foi extremamente fácil para Nora e quando entra no mundo de Michael, buscando respostas e vingança, ela se distancia mais e mais das poucas pessoas que ainda faziam parte de sua vida. A melhor amiga, o namorado que foi seu porto seguro quando a irmã morreu e o detetive que seguia no caso e era o único a ouvi-la. Lentamente, ela vai se desconectando de todos... entrando mais e mais fundo no obscuro mundo em que ele vive. Sair já não parece possível. 

"O mundo no qual vivo agora, com M., é doentio, e minha obsessão beira a autodestruição. Tenho plena consciência disso. E também de minha impotência para impedi-lo."

- Ela acreditava estar no controle, julgava que sabia o que estava fazendo, mas com o passar do tempo já não enxerga nem sombra da pessoa que havia sido antes daquele homem surgir em sua vida. Antes dela permitir que ele a conduzisse mais e mais fundo, mostrando a ela uma realidade que até então desconhecia. 

"Ele está revelando uma face da minha alma que eu preferiria manter oculta. Não quero fazer parte do seu mundo, mas não sei como escapar dele."

Quando ela entra naquela situação, é para obter as provas necessárias para que o assassino de sua irmã seja punido, mas as coisas fogem do controle, empurrando-a numa direção que ela nunca desejou, fazendo-a encarar um outro lado de si mesma, transformando-a em alguém com quem não sabia se era capaz de conviver. Especialista na arte da manipulação, Michael a envolve profundamente, tal como fez com Franny, conhecendo seus segredos mais profundos, obrigando-a a revelar cada vez mais e ir mais e mais longe, até que ela não saiba como fazer o caminho de volta, como cobrir-se outra vez. Sem que perceba, faz exatamente o que Franny fez: dá a Michael as armas para que ele a destrua. 

"Caí num mundo sombrio, de isolamento, em cujo centro está M. Eu tinha uma carreira. Eu tinha amigos. Mas pouco a pouco perdi tudo."

- Sempre que Michael empurrava Franny para além dos limites, ela chorava, sofria. Não suportava as coisas que ele fazia com ela. Não sentia prazer com a dor. Só desejava um relacionamento normal. Só queria o seu amor. Mas as culpas do passado e seu amor por Michael a impedem de deixá-lo. Já Nora... ainda que estivesse com Michael por todos os motivos certos (por Franny) gostava de tudo que ele fazia com ela. Quanto mais ele a empurrava para além de qualquer limite, mais prazer ela sentia. Tudo podia ser degradante, bizarro, imoral, ela podia resistir no início, mas se entregava e permitia que ele fosse além... Ele já a tinha onde bem queria. Ela era dele. Conseguiria acordar? Conseguiria voltar? 

"- Há várias maneiras de se chegar até o inferno - digo, pensando no quarto negro da casa de M., na funda de couro, no guincho de aço. - Voltar é que é difícil."

Cega pela sedução de Michael, Nora não consegue perceber que já não está com ele apenas por Franny. Não consegue enxergar que já não possui qualquer controle e que está mais e mais perto da morte... 

"Ele baixa a cabeça e coloca o rosto próximo ao meu.
- Se pronunciar mais uma palavra - murmura, agarrando meu pescoço -, será a última."

- Por onde eu começo? Acredito que ao ler tudo que coloquei acima e os trechos que escolhi, vocês podem ter uma noção de como esta leitura não foi nada fácil. E estes foram trechos leves, digamos assim. Alguns trechos eu "censurei", cortei pedaços colocando aqueles [...], pois contém pedaços que não são lá muito leves. O livro é extremamente pesado, gente. Não só nas palavras, mas principalmente nas cenas brutais que nos mostra. Fala de sadomasoquismo, mas não daquele tipo que você encontra em Cinquenta Tons de Cinza e livros similares. Não é romance. Não é um livro sobre amor entre duas pessoas que, de comum acordo, decidem entrar no mundo do sadomasoquismo. Não é nada parecido com o que o Christian Grey tinha com a Anastasia (eu só vi o filme, gente. Não li os livros). Ele a machucava, era possessivo, controlador, f.... ao invés de fazer amor, como ele mesmo diz no filme, mas no fundo temos aquele cor de rosa do amor. O Grey ama a Anastasia. Aqui não tem nada disso. Este livro aqui é um thriller. Na capa diz que é um thriller erótico, mas além disso é também um thriller psicológico, um suspense cruel, mostrando um lado profundamente doentio da relação entre duas pessoas. 

E só há sadomasoquismo entre o Michael e a Nora, vale deixar bem claro. Um sadomasoquismo bem doentio, que a empurra para a morte, para um fim que poderia ser bastante horrível. O Michael não é um homem normal que apenas gosta de jogos consensuais. Não. Ele é um psicopata, gente. Ele é pura maldade. Consegue envolver suas vítimas ao ponto de elas acreditarem que ele se importa com elas e que nada que faz é realmente para machucar. É só um jogo, não é? Só que não é. Ele não quer só machucar, ele quer destruir. Quando a pessoa percebe já é tarde demais. Para qualquer coisa. 

"Michael a prendera outra vez. Não conseguia compreender por que ele o fazia. Não conseguia compreender como uma pessoa tão gentil podia ser tão cruel. Ele a segurara em seus braços e afastara seu cabelo do rosto com ternura, enquanto ela lhe implorava, baixinho para não a machucar."

Como podem perceber pelo trecho acima, com Franny tudo era diferente. Ela não gostava de nada daquilo. Não era sadomasoquismo com ela, era puro sadismo. Franny não encontrava prazer na dor. Não gostava de sofrer, mas o amava demais para conseguir fugir dele. Ela fazia tudo que ele queria, porque sabia que não tinha outra opção. Ele a seduziu até que ela se apaixonasse, até que ela fosse incapaz de deixá-lo. Ele a atormentou até o último dia da vida dela. É duro demais aceitar isso. Aceitar a morte dela. Era alguém tão frágil, tão necessitada de carinho. Ela se apaixonou pela pessoa errada e pagou muito caro por isso. Quantas pessoas não passam pelo mesmo? Quantas e quantas mulheres acabam mortas ao viverem relacionamentos abusivos? Independente de gostar de chicotes e tudo que envolve o mundo do sadomasoquismo, Michael por si só era um homem abusivo, que gostava de controlar as mulheres e feri-las, alguém com sangue frio suficiente para matar ao ser contrariado. Isso não tem nada a ver com sadomasoquismo. Tem a ver com maldade. Como o livro A Lista do Nunca, Identidade Roubada, No Escuro... ele não é muito diferente dos psicopatas desses livros. Só que ele é pior. Porque ele faz as vítimas fazerem exatamente o que quer, como se elas estivessem consentindo. É uma mente semelhante a do livro Restos Humanos, quando aquele doente envolvia as vítimas até forçá-las a cometerem suicídio, lembram? 

"Michael era tudo o que lhe restara. Ela aceitaria seus castigos e todas as coisas indescritíveis que ele fazia com ela, atos mais cruéis do que as mais violentas surras. Enquanto ele a amasse, ou tentasse amá-la, ela faria tudo o que ele pedisse."

- Nunca serei capaz de esquecer a Franny e todas as chances que ela não teve. Me dói muito pensar nessa mocinha. Primeiro se sentia culpada pela morte do irmão... e quando ela revela o motivo.... Nossa! É uma cena que nos leva às lágrimas. Dor demais para uma menina de 13 anos suportar. E como se não bastasse, seus pais se desligam totalmente da existência dela quando seu irmão morre. Concentrados no próprio luto, no próprio sofrimento, eles não percebem que têm uma filha precisando de ajuda. Simplesmente se esquecem dela e quando eles também morrem, é como se sua ferida ainda muito aberta ficasse infeccionada e nada fosse capaz de curá-la. Ir morar com Nora não a ajuda em nada. Franny acaba criando um mundo próprio, trancando todos fora dele. Vulnerável demais para conseguir escapar de uma mente tão cruel como a do Michael. 

"Pergunto-me agora o que passou pela cabeça da minha pobre irmã enquanto seu assassino a prendia com fita isolante, enquanto dava início à lenta tortura. Será que pensou em mim? Será que morreu achando que ninguém gostava dela? Se me dessem outra chance, Franny, eu faria tudo para que soubesse que eu gostava de você, e muito."

- Nora... Sinceramente, não sei de qual das duas irmãs eu sinto mais compaixão. Por quem eu sofro mais. As duas estavam marcadas por traumas do passado, cada qual lidando à sua maneira com a dor que sentiam dentro delas, ambas presas fáceis para o Michael. A Nora podia se considerar forte, dona de si, acreditar que sabia tudo que estava fazendo, mas estava tão longe disso! Talvez com ela o jogo dele tenha sido pior. Porque ele entrou na mente dela até fazê-la pensar o que ele queria. Nora não só fazia o que ele queria, seus pensamentos, suas vontades... ele manipulou tudo. É como se ele a tivesse desmontado e montado da exata maneira que queria. Usou cada um dos seus traumas, um passado que ela jamais tinha confessado para ninguém, usou suas inseguranças, usou o sexo também. Fez dela exatamente o que desejava. E a afastou de qualquer pessoa que pudesse salvá-la. 

"Estou na beira do abismo, e não há ninguém para me impedir."

- Perturbador... Este livro é profundamente perturbador, do começo ao fim que nos rouba o fôlego. Um final que é inesperado, de certa forma. Eu sabia que nada nesta história poderia terminar bem, mas não imaginei que terminaria daquela maneira. A justiça passou longe desta história, como de tantas outras que já li. Não. Isto não é spoiler. O único spoiler que dei até agora foi indicar sem sombra de dúvidas que o Michael matou a Franny. Mas isso foi spoiler mesmo? Porque é gritante que foi ele. Nós temos certeza desde as primeiras páginas. A autora não quis que isso fosse o grande mistério do livro. E não revelei nada sobre o final. Deixarei que vocês descubram como o livro termina. Mas há duas coisas sobre esta história que preciso contar.

- A autora, no intuito de nos mostrar até onde ia a maldade do Michael... na intenção de nos fazer conhecer a mente dele, o quanto ele era um monstro, coloca duas coisas extremamente pesadas no livro. E isso é spoiler!!! Há uma cena na qual o Michael coloca um vídeo ilegal e quer que a Nora assista. Não vou descrever o vídeo, pois me dá ânsia de vômito só lembrar... mas posso dizer que se trata de violência contra criança. Coisas que costumamos ver na série de TV Lei e Ordem - Unidade de Vítimas Especiais. Dá para vocês terem uma ideia do que é.

A outra cena impactante e de dar náuseas envolve o cachorro dele. E envolve sexo. Juntem as duas coisas e podem imaginar do que se trata a cena. Sim. São cenas muito, muito pesadas. São horríveis de ler. A maldade do Michael jamais conheceu limites. Ele é um demônio. Só pode ter vindo das profundezas do inferno. 

"A jornada de Franny foi muito mais dolorosa. Inadvertidamente, ela penetrou no coração de um homem mau, e jamais retornou."

- Não direi se recomendo a história ou não. Deixo que vocês decidam se vão lê-la ou não. Dei 4 estrelas ao livro, porque é impossível negar que a autora é brilhante, com uma escrita original, profundamente inteligente e audaciosa. Ela não teve medo de pegar pesado. Ela quis contar uma história e a contou. Sem economizar nas palavras. Sem poupar os leitores ou os personagens. É uma autora muito corajosa, que me impressionou e despertou minha admiração. Entendo perfeitamente até mesmo as pessoas que talvez tenham dado 5 estrelas ao livro. Eu só não dou 5 estrelas porque as duas cenas mais pesadas foram demais para mim. Meu estômago revirou e eu quase parei a leitura nessas duas vezes, de tão enjoada e revoltada que eu fiquei. Mas entendo por que a autora colocou tais cenas no livro. A história é muito bem elaborada, tudo se liga desde as primeiras páginas. 

Tirando essas coisas que contei sobre o livro: que é o Michael que matou a Franny (algo que qualquer um pode perceber desde as páginas iniciais, então não é tão segredo assim) e as duas cenas que mencionei, não revelei muita coisa sobre o livro. A história possui 413 páginas. Muita coisa acontece... existem vários segredos do livro que não contei. 

"Mas eu acredito em carma, e os maus serão punidos, mais cedo ou mais tarde. Se não nesta vida, numa próxima. Ninguém pode praticar o mal e ficar incólume. Eu preciso crer que haja uma ordem inefável no universo."

Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

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