26 de julho de 2017

Senhora - José de Alencar

Tempo de leitura:

Senhora, de José de Alencar, é considerado um dos romances mais bem elaborados do autor e faz parte do chamado "perfis de mulheres". Este romance urbano é narrado em 3ª pessoa e se distingue pelo fato da mulher ser quase o tempo inteiro o sujeito da história. 

Senhora se divide em quatro partes intituladas: O Preço, Quitação, Posse e O Resgate. 

O romance conta a história de como Aurélia Camargo, jovem debutante de 18 anos, bela e herdeira de uma grande fortuna, resolve vingar-se do homem que, no passado, a havia humilhado, trocando-a pelo dote de outra mulher. 




Palavras de uma leitora... 


Luna, jura que nunca leu esta história antes? Nem na escola? Juro, gente! Eu cheguei a tentar ler no passado, mas não deu lá muito certo.rsrs E quem poderia me culpar?kkkk Nem mesmo o autor, pois até ele precisaria reconhecer que sua escrita é bem difícil! Comecei a ler a história na segunda-feira à noite e, apesar de só ter 205 páginas, só hoje consegui concluí-la. O que, obviamente, atrasou bastante minha pilha de livros da maratona.rsrs 

Vários anos atrás, quando era ainda uma adolescente (e já tinha lido O Morro dos Ventos Uivantes sem muita dificuldade com a escrita da autora, embora tenha lido uma edição bem antiga), tentei encarar Senhora. O resultado foi que li 52 páginas e abandonei o livro, pois eram muitos os transtornos que o floreado do autor me causava!kkkkkk... Não é a narração em si que acho complicada, mas a quantidade de comparações, de uso de figuras de linguagem que existem no livro. E a maneira como ele realmente "enfeita" a história. Era tanto céu, estrelas e muitas outras palavras usadas para descrever ambientes e pessoas, que eu ficava bem cansada. Isso foi o que me irritou durante a leitura. Me irritou muito, só para ressaltar. Sei que muitos autores da época do José de Alencar escreviam desse jeito, mas a Emily Brontë também é uma autora clássica e nem por isso enrolava tanto para dizer o que pretendia. Enfim... Implicâncias à parte, vamos ao livro! :)

- Mas antes... Esta não foi minha primeira experiência com o autor. Li uma história dele anos trás chamada O Guarani e posso dizer com todas as letras que AMEI! Não lembro do livro ser tão enfeitado como Senhora, embora o autor o tenha escrito antes mesmo deste aqui. E de modo algum detestei a história de Aurélia e Fernando! Pelo contrário, a amo ainda mais que O Guarani! :D Como não amar um livro que nos apresenta uma mocinha tão forte e corajosa, despedaçada pela traição do homem amado e que mesmo assim deu a volta por cima para fazê-lo pagar por todo o dano que lhe provocou? Seria impossível! Não tem como não amar a Aurélia! Ela é uma mocinha de verdade! E o mais incrível é que a história foi escrita no século XIX! 

"Sentiu então Aurélia essa quietude que sucede às lutas do coração. Ela tinha afinal resolvido o problema inextricável de sua vida; e em vez de abandonar-se ao acaso e deixar-se levar pelo turbilhão do mundo, achara em sua alma a força precisa para dirigir os acontecimentos e dominar o futuro."

Aurélia é uma jovem herdeira de 19 anos, bem à frente do seu tempo, não permitindo que pessoa alguma decida a sua vida. Enquanto outras moças estavam acostumadas a serem governadas por seus pais, maridos ou tutores, ela era dona de si, sabendo exatamente o que queria e como conseguir. Era adorada pelos homens da sociedade e invejada por muitas mulheres. Sabia que era bela, mas que sua principal sedução era a riqueza. Que nenhum daqueles que tanto lhe juravam amor perderiam o tempo com ela se não fosse o seu dinheiro. Assim, cética e irônica, passou a ver a todos do mesmo modo... avaliando cada um de uma forma um tanto "monetária". 

"[...] - É um moço muito distinto, respondeu Aurélia sorrindo; vale bem como noivo cem contos de réis; mas eu tenho dinheiro para pagar um marido de maior preço, Lísia; não me contento com esse."

E Aurélia sabia exatamente a quem queria comprar. O mesmo homem que, anos antes, a deixara pelo dote de outra mulher. Que a trocara por dinheiro. Se deixara de ser uma jovem ingênua e sonhadora não existia melhor pessoa a agradecer. O homem que partiu seu coração e destruiu todas as ilusões que ela possuía. Nada mais era que o resultado de sua traição. 

No passado, Aurélia não passava de uma moça belíssima desejada pelos homens para uma noite apenas. Embora todos lhe dedicassem poemas e fizessem promessas de amor, tudo o que queriam era seduzi-la para depois abandoná-la à própria sorte. Porque Aurélia possuía um defeito imperdoável: era uma menina pobre. 

Seus pais tinham lutado por um amor proibido que mais lhes trouxe tristezas que alegrias. Ao perder o marido, com dois filhos pequenos para criar, a mãe de Aurélia tinha que desdobrar-se para que tivessem o que comer, algo que contribuiu para aumentar sua fragilidade e precipitar sua morte. A família de seu marido era muito rica, mas havia virado às costas para ela e seus filhos, não acreditando no casamento dos dois e considerando-a uma perdida. Sua própria família também a abandonou e Aurélia se viu totalmente sozinha ao perder o irmão e, logo em seguida, a mãe. 

Nem pôde dar à mãe a alegria e tranquilidade de lhe ver casada, pois a essa altura já tinha deixado para trás todas as ilusões. Conhecera Fernando pouco antes da morte de sua mãe e com ele descobrira o amor. Pela primeira vez tinha sentido algo tão forte em sua vida e acreditara com todo o seu coração que, mesmo que não pudessem ficar juntos, sempre o amaria. Mas mal pôde conter a felicidade quando ele pediu a sua mão em casamento. Será que era perigoso sonhar? Será que era arriscado ter esperanças? Sabia o que era e que tão pouco tinha a oferecer a alguém como ele. Mas o amava mais do que a si mesma. Porém, a alegria de Aurélia não demorou a acabar. E uma dor profunda a invadiu. 

Arrependido do impulso que o levou a pedir a jovem que acreditava amar em casamento, Fernando ansiava por um pretexto para livrar-se daquela responsabilidade. Tinha muitos planos para si mesmo e não desejava ver-se preso a uma mulher que teria que sustentar. Como pagaria os luxos que tanto adorava? Como frequentaria a sociedade e os lugares cujas portas abriam-se para ele por causa das amizades influentes e sua maneira elegante de se vestir, embora não tivesse berço nem onde cair morto? Não estava disposto a abrir mão de sua vida, ainda que acreditasse amar Aurélia. Assim, ainda noivo dela, começou a encontrar-se com outra jovem... alguém que o pai estava disposto a ver casada oferecendo como dote ao sortudo marido trinta contos de réis. Desta forma, Fernando não teve problema algum em livrar-se da noiva que nada tinha a lhe oferecer trocando-a por uma que, pelo menos, possuía um dote. 

Destroçada pela traição dele, perdendo logo depois a mãe, Aurélia mal poderia imaginar o rumo que sua vida tomaria... 

"O papel continha o testamento em que Lourenço de Sousa Camargo reconhecia e legitimava como seu filho a Pedro Camargo, que fora casado com D. Emília Lemos, declarando que à neta D. Aurélia Camargo, nascida de um legítimo matrimônio, instituía como sua única e universal herdeira."

Da noite para o dia, Aurélia deixou de ser uma jovem pobre para transformar-se numa das pessoas mais ricas de uma sociedade que antes não se atreveria a abrir-lhe as portas. Deixara de ser olhada de lado para ser querida por todos e em nenhum momento ela deixou-se enganar pelos carinhos e amizades fingidos. Desprezava profundamente todas aquelas pessoas hipócritas e os pretendentes que desejavam sua mão ansiando seu dinheiro. Estava disposta a comprar um marido. Mas não um qualquer. Desejava ele. Fernando Seixas, o homem que a rejeitara no passado. 

Conhecendo exatamente o seu preço, Aurélia atrai o homem que um dia amou, disposta a sacrificar o próprio futuro pelo direito que acreditava possuir de vingar-se. Porque não encontraria paz enquanto não o fizesse pagar por ter destruído a sua vida. E no meio de tudo isso... ainda existiria espaço para o amor? Poderia um coração tão ferido permitir-se amar outra vez? Isso só o tempo seria capaz de dizer... 

"[...] Entremos na realidade por mais triste que ela seja; e resigne-se cada um ao que é, eu, uma mulher traída; o senhor, um homem vendido.
- Vendido! exclamou Seixas ferido dentro d'alma. 
- Vendido, sim: não tem outro nome. Sou rica, muito rica; sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem contos de réis, foi barato; não se fez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por este momento."

- Forte, não é mesmo? Lembro que fiquei de queixo caído ao ler este trecho.rsrs Mas não tive um pingo de pena do Fernando, o suposto mocinho desta história. Tudo o que ele me provocava era desprezo e a única coisa que lamentava era o fato da Aurélia ter desperdiçado a própria vida se casando com alguém como ele, ainda que fosse por vingança. Uma mocinha como ela merecia alguém bem diferente, um homem de verdade, sabe? E não aquele projeto malfeito! 

Assim como tinha trocado a mocinha no passado pelo dinheiro de outra mulher, Fernando não hesitou muito ao vender-se novamente. Ele se fez de ofendido ao receber a proposta do tutor de Aurélia (tudo planejado por ela, é claro), mas não demorou a ceder, mesmo sem saber qual era a mulher com a qual se casaria. Estava bem acostumado a pensar apenas em si mesmo e nos luxos dos quais não queria abrir mão. Desta forma, endividado, prestes a perder a "posição" que possuía naquela sociedade, pensou em todas a vantagens que um casamento por dinheiro lhe traria e aceitou, pedindo ainda um adiantamento como condição para celebrar o "negócio". Não dá para sentir simpatia por esse traste, sinceramente! Nem as mudanças que começaram a operar-se milagrosamente no Fernando, após o casamento e a descoberta do motivo de Aurélia para casar-se com ele, fizeram com que eu pudesse esquecer a maneira como ele se comportou com ela no passado e a forma como ele só pensava em si mesmo. Era um egoísta dos pés à cabeça. Alguém digno de desprezo. Porque não é só Aurélia que ele trai em nome do orgulho e do dinheiro. Durante a leitura quase toda, esse miserável ignora a própria mãe e as irmãs. Me partia o coração a maneira como elas o amavam e se sacrificavam por ele enquanto o desgraçado se envergonhava de tê-las como parte da família. Ele dedicava a elas a "atenção" que daria a um estranho, gente! Ninguém me convence do amor desse traste por elas. Não mesmo! 

"- Minha presença a está incomodando? Porque assim o quer. Não é, mesmo senhora? Não tem o direito de mandar? Ordene, que eu me retiro. 
- Oh! sim, deixe-me! exclamou Aurélia. O senhor me causa horror.
- Devia examinar o objeto que comprava, para não arrepender-se!"

- Confesso que eu me divertia muito com as palavras venenosas que nossa mocinha dedicava ao marido. E o incômodo do Fernando, sua humilhação por ela deixar claro que não o via mais que como um homem comprado e que lhe pertencia como um objeto, não me causava nenhuma compaixão. Na minha opinião, ele merecia. Não foi exatamente o que ele quis? Casar-se por dinheiro? Se era o luxo que ele queria, pois bem o tinha! Não podia reclamar.rsrs Mas o fato da Aurélia lançar essas verdades na cara dele, mostrando que ele não a enganara com seu falso amor, o faziam sentir-se ofendido. Coitadinho dele!rs Gente, eu apreciei muito o "sofrimento" do Fernando. Ele tinha que aprender uma lição e admirei a coragem da Aurélia para dar a ele exatamente o que o verme merecia. Todavia... Foram muitos os momentos nos quais meu coração doeu pela mocinha da história. Porque embora ela lutasse para ser uma pessoa vingativa e fria, na verdade seguia sendo a mesma menina doce e sonhadora do passado que se feria toda vez que atacava o homem que jamais deixou de amar. A vingança de Aurélia doeu mais nela mesma do que nele. E por isso eu cheguei a um ponto em que desejei que ela abrisse mão de tudo aquilo e o perdoasse. Não por ele, mas por ela. Porque ela sim não merecia sofrer. 

- Amei demais este livro, apesar dos floreados insuportáveis do autor. Quando passava a vontade de jogar o livro longe por causa de tanta enrolação descrevendo com exagero ambientes e pessoas e enfeitando tanto até mesmo os diálogos... quando a raiva passava e eu podia me concentrar apenas na história dos protagonistas, me via totalmente envolvida por eles, fascinada com a troca de farpas e louca para saber como conseguiriam salvar aquele casamento fadado ao fracasso desde o princípio. Era tanto ressentimento que existia entre os dois que não parecia muito provável que algo pudesse ser salvo. 

"Se o homem a quem amava, se ajoelhasse a seus pés e lhe suplicasse o perdão, teria ela forças para resistir e salvar a dignidade de seu amor?"

- Eu compreendi bastante a Aurélia, inclusive o seu amor pelo Fernando. Acredito que foi mais esse amor e não a vingança que motivou as ações dela. Nunca pôde libertar-se do que sentia por esse homem, por mais indigno que ele seja do amor dela. Ainda respirava esse sentimento e ao herdar de repente aquela fortuna, penso que ela viu a oportunidade de finalmente tê-lo ao seu lado, mesmo que fosse através do dinheiro. Era triste vê-la tentando chamar a atenção dele, lutando para fazê-lo sentir algo, mostrar algum interesse por ela. Aurélia precisava tanto do Fernando que eu ficava angustiada. Dói pensar que ela poderia ter qualquer homem e que existiam aqueles que realmente a mereciam e mesmo assim ela optou por ele porque o amava. Ah, Aurélia! 

"Às vezes queria esquecer tudo, para só lembrar-se que era marido dessa mulher e que a tinha nos braços."

- Terminei a história sem gostar dessa porcaria de mocinho! Não sei se acredito no amor dele pela Aurélia, sinceramente. Fernando para mim é um covarde egoísta e nada do que ele fez mudou minha maneira de pensar. Nunca lutou pela mocinha. Em nenhum momento. Nem no passado e muito menos no presente. Só lutava por si mesmo e ficava se lamentando por ter seu orgulho ferido, por se sentir humilhado com a vingança dela. Quando foi que ele teve atitude?! Não enxerguei. Enquanto Aurélia era pura força e amor, Fernando era só egoísmo e fraqueza. 

- Eu amei o livro e só não dou 5 estrelas porque não apreciei o final e nem a falta de caráter do mocinho. 

- Esta foi minha quinta leitura para a Maratona Literária de Inverno 2017. O livro preenche o Desafio 6: ler um livro nacional. Faltam 4 livros para eu concluir a maratona, gente! Continuem me desejando sorte, por favor!kkkkkkkkk... 

Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

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