4 de fevereiro de 2018

Tristão e Isolda - Lenda medieval celta de amor

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Tristão e Isolda conta a história de amor entre o cavaleiro Tristão, originário da Cornualha, e a princesa irlandesa Isolda (ou Iseu), protagonistas de uma história medieval de amor baseada numa lenda celta.

Seu amor impossível inspirou poetas, escritores, pintores e músicos da Idade Média e dos tempos modernos. Tornou-se, por exemplo, tema de uma das mais famosas óperas de Wagner e deu orgiem a diversos filmes - o mais recente, produzido em 2006.

As inúmeras versões que imortalizaram e divulgaram essa história em outros países são o testemunho do fascínio e do encantamento que ela causa até hoje. Misturando magia, traição e sofrimento, a lenda provoca, comove e inspira.



Palavras de uma leitora...


- Sempre que pego um livro para ler tenho o costume de ler sua sinopse primeiro, qualquer comentário que esteja nas "orelhas" do livro, nome do tradutor, data de publicação e coisas assim. Só depois inicio a leitura propriamente dita. Com Tristão e Isolda não foi diferente. E assim, li um trecho bem interessante: "[A peça] Romeu e Julieta, de William Shakespeare, foi inspirada nos versos do poeta Arthur Brooke, lançados em 1562, que por sua vez foi influenciado pelas narrativas de Tristão e Isolda."

Quem me conhece certamente sabe: não suporto Romeu e Julieta.kkkkkkkk... É uma das histórias que mais me causam repulsa. Não sei explicar. Acho que simplesmente não simpatizo nada com esse romance. E sei que sou minoria. Que a grande maioria dos leitores ama de paixão esse clássico mundial. Eu, não. Saber que a peça de Shakespeare foi inspirada em Tristão e Isolda seria um ponto contra o livro. Todavia, sou uma leitora de mente aberta. :) Não permitiria que o meu desamor pelo trágico casal de Shakespeare me impedisse de conhecer esta história. E realmente valeu a pena arriscar!

- A história de Tristão e Isolda é uma lenda celta que durante muito tempo foi contada oralmente e transmitida de geração em geração, pois provocava verdadeiro fascínio em quem a ouvia. Inspirava corações apaixonados, amores proibidos... Pelo que pude entender, a versão original se perdeu com o tempo. A Martin Claret, editora da versão que possuo da história, escreveu o seguinte no livro: 

"As diversas versões de Tristão e Isolda hoje publicadas tomam como base dois romances em verso escritos na segunda metade do século XII em francês antigo: um de Béroul, de estilo popular e violento, e outro de Thomas da Inglaterra, seguindo a estética do amor cortês. Possivelmente, ambos usavam como referência um livro celta, hoje completamente perdido."

E a explicação segue adiante quando eles dizem que além de terem como base tais versões, também se basearam em fragmentos de outras versões famosas da história até termos o presente resultado. Não se sabe quem foi o autor original da história de Tristão e Isolda. Sabe-se que é uma lenda muito famosa na Idade Média, ainda motivo de inspiração de artistas nos dias de hoje. 

- Um dos principais motivos para eu ter desejado ler este livro, ter corrido para adquiri-lo e passá-lo na frente de várias outras leituras foi o fato de fazer séculos que não lia uma lenda. Tinha o hábito de ler aquelas tão conhecidas lendas folclóricas quando mais nova. Me encantavam! Pensei que seria maravilhoso ler uma lenda diferente, contada pela primeira vez tantos e tantos séculos atrás. Tão querida ao ponto de sobreviver ao tempo e às diversas versões que a transformaram. E, como eu disse no início da resenha, não me arrependi. 

"Senhores, agradar-vos-ia conhecer uma bela história de amor e de morte? É a história de Tristão e da Rainha Isolda. Ouvi como, alegres e tristes, eles se amaram, e disso morreram, no mesmo instante, ele por ela, ela por ele."

Muito tempo atrás existia na Cornualha um rei em apuros. Seus inimigos queriam derrotá-lo, tirá-lo do poder. Porém, tal rei possuía também um amigo fiel, que saiu de seu próprio reino para ajudá-lo. Vencidos os conflitos, o rei Marcos, quem recebeu a ajuda, percebendo o interesse de seu amigo por sua irmã, entregou Brancaflor a ele em casamento. O jovem casal estava muito feliz, sem imaginar a tragédia que se abateria sobre suas vidas. 

Pouco tempo depois do casamento, Rivalen recebeu a notícia de que seu reino estava sendo atacado por um duque que o odiava. Grande era a destruição que o traidor já tinha provocado. Sem outra alternativa, ele levou sua jovem esposa para sua terra, disposto a enfrentar o inimigo. Brancaflor ficou no castelo enquanto Rivalen lutava na guerra. Ela muito o esperou, tentando ter esperança de que ele regressaria, de que não o perderia. Estava grávida do seu primeiro filho. Precisava dele mais do que nunca. Todavia, Rivalen jamais regressou. 

Um dia, chegou a notícia de que seu marido tinha sido assassinado traiçoeiramente pelo duque que atacara suas terras. Destroçada pela dor, ela só teve tempo de dar à luz, pegar seu bebê nos braços, lhe dar um nome antes de falecer. Ela o chamou de Tristão, pois na tristeza ele nasceu. 

Temendo que o duque assassinasse o pequeno herdeiro, Rohald, grande amigo dos pais do bebê, o criou como seu filho, escondendo de todos a verdade. Porém, o destino tinha seus próprios planos e, anos mais tarde, o menino foi sequestrado, vindo a parar nas terras da Cornualha, no castelo de seu tio, irmão de Brancaflor. 

O rei Marcos não compreendia por que amava tanto aquele jovem. De onde vinha tal afeto? Só sabia que gostava de tê-lo por perto, admirava seu talento, sua coragem e lealdade. Aconteceu que um dia, Rohald descobriu o paradeiro de seu senhor e contou então toda a verdade sobre a origem de Tristão. O rei, emocionado por ter de volta um pouco de sua querida irmã no filho dela, já considerava Tristão o seu herdeiro. E foi aí que todo o inferno começou na vida do rapaz. 

Existia entre os conselheiros do rei Marcos, barões que tinham laços de sangue com ele. E quanto mais o rei se aproximava e estreitava os laços com Tristão maior era a inveja e o ódio daqueles homens. Queriam sua morte, mas eram covardes demais para enfrentá-lo num duelo. Então, levantavam calúnias, na intenção de transformar o afeto do rei em desprezo. 

Disposto a fazer do filho de sua irmã seu único herdeiro, o rei não tencionava se casar. Sabia que não seria fácil, que seus conselheiros não aceitariam de bom grado tal decisão. Então, um dia, ao chegar a seus aposentos duas andorinhas carregando um fio de cabelo da cor mais bela de louro, ele traça um plano. Prometeria a todos que se casaria, mas somente se fosse com a dona daquele fio de cabelo. Acreditando que seria impossível para seus súditos encontrar tal dama, ele ficou sossegado. 

Ocorre que Tristão, sabendo do ódio e das desconfianças dos barões, não aceita a decisão do rei. O ofendiam terrivelmente as acusações daqueles homens e, desejando calar a boca deles de uma vez por todas, saiu ele próprio em busca da tal mulher. Sabia quem ela era, pois reconheceria aquele fio de cabelo em qualquer lugar. Um dia, ferido de morte, ele havia sido curado por ela, quando a jovem não fazia ideia de sua verdadeira identidade. Foi breve o encontro, mas sua beleza o impressionou. Esquecê-la seria impossível. Assim, Tristão parte para a Irlanda, na intenção de conquistar Isolda dos Cabelos de Ouro, a filha do grande inimigo do seu rei. A missão era arriscada, mas ele não retornaria sem a futura esposa do seu tio. 

Dono de uma inteligência e astúcia impressionantes, Tristão consegue convencer o rei a entregar Isolda em casamento, selando assim a paz entre os dois reinos. E tudo teria terminado bem se, durante a viagem de volta para a Cornualha, seu coração não o tivesse traído. Porque a atração que o impediu de um dia esquecê-la se transformou em amor... num amor correspondido. Um amor proibido. 

"E, quando a noite caiu sobre a nau, que corria velozmente para a terra do Rei Marcos, eles se entregaram ao amor.
Ouvi e sede compassivos: não os culpeis, porque, assim como a morte, o amor também é fatal..."

- Esta é uma história de amor que já começamos a ler sabendo que não terminará bem. O narrador em vários momentos nos adianta os acontecimentos, lamentando um amor fadado à destruição. Tristão e Isolda sempre estiveram condenados. Só que isso não diminui em nada a angústia de quem lê. Saber que não existia saída para o amor deles não alivia o sofrimento. Acabamos torcendo por eles mesmo assim. Esperando por um final feliz que não chega. 

“Pobre infeliz! Estava escrito que ele não conseguiria viver nem com ela, nem sem ela.”

- Triângulos amorosos e amores impossíveis sempre atraíram escritores, leitores, músicos e outros artistas pelo mundo afora. Creio que a história sobreviveu ao tempo não por conta do amor entre dois jovens, mas sim porque tal amor era proibido, porque era trágico. Mesma explicação para o grande sucesso de Romeu e Julieta, a tragédia que inspira tantos corações, que faz jovens apaixonadas suspirarem e sonharem acordadas. O livro (Romeu e Julieta) teria tido tanto sucesso se o casal terminasse feliz da vida e não vítima do ódio de suas famílias ao ponto de, por equívoco, cometer suicídio? Certas histórias se eternizam por conta do seu sabor agridoce, pela mistura de amor e destruição. Eu até leio algumas histórias do tipo, como foi o caso de Édipo Rei, O Morro dos Ventos Uivantes, As Relações Perigosas e outras que não terminam nada bem. O Morro dos Ventos Uivantes, então, é um dos livros mais queridos da minha vida! Todavia, não sou tão masoquista ao ponto de fazer desse tipo de livro um hábito de leitura. Ainda prefiro os finais felizes.rsrs 

“E, assim, primeiro o destino finge afastar aqueles que depois vai implacavelmente reunir...”

- Na intenção de tornar o amor entre Tristão e Isolda um sortilégio, algo que eles foram incapazes de evitar, o narrador nos conta que o casal, por acidente, bebeu uma poção preparada pela mãe da moça. Tal poção deveria ser bebida por Isolda e o rei Marcos na noite de núpcias, pois assim o rei amaria para sempre a sua bela esposa. Ocorre que durante a viagem de regresso, Tristão sentiu muita sede e uma serva encontrou a bebida e deu a ele e à Isolda. A partir deste instante, uma paixão violenta tomou conta dos dois. Os olhares se tornaram mais intensos, não suportavam uma mínima distância entre seus corpos. Precisavam se tocar, necessitavam entregar-se ao amor que os enlouquecia. 

“Eram desgraçados quando definhavam longe um do outro e mais desgraçados ainda quando, juntos, tremiam diante do horror da primeira confissão.”

- O casal não queria se amar. Embora Isolda tenha se sentido atraída por Tristão após salvá-lo da morte pela segunda vez, tenha desejado ser sua esposa, sabia que estava prometida ao rei Marcos e não tinha intenção de traí-lo. Do mesmo modo, Tristão, sendo sobrinho do rei e amando-o como a um pai, se sentia desesperado por estar apaixonado pela única mulher que lhe era proibida. Do mesmo modo que o que sentiam lhes enchia de felicidade também tornava seus dias um tormento, uma agonia pela traição que cometiam e pela certeza de que não poderiam ficar juntos. 

Mesmo amando Tristão, Isolda, sem outra opção, se casa com o rei Marcos e, no escuro da noite de núpcias, sua criada se entrega ao rei em seu lugar, para que o segredo de Isolda não fosse descoberto e ela condenada à morte. Tão forte era a loucura do que sentia por seu amado, que se entregou a ele, mesmo sabendo que a falta de virgindade na noite de núpcias poderia ser sua sentença de morte. 

- Eu senti pelo sofrimento do casal. Me deixei envolver pela história deles, pela intensidade do que sentiam, pela forma como eles lutam para estarem juntos, não importando as consequências de tal amor. Isso não significa que simpatizei com os dois o tempo inteiro. 

As atitudes de Isolda me provocaram muita raiva em certos momentos. Posso entender como era difícil para ela toda aquela situação. Se seu romance com Tristão fosse descoberto ambos seriam assassinados. Imagino como era desesperador viver assim, presa a um homem que não amava, entregando-se a quem seu coração pertencia sabendo que a qualquer instante poderia condenar os dois. Mas isso não lhe dava o direito de tomar uma certa decisão. Fiquei muito chocada com o que ela fez e ali comecei a perceber seu verdadeiro caráter. Não foi surpresa para mim que, levada pelos ciúmes, ela tenha, várias páginas mais tarde, feito outra coisa desprezível. Isolda não era a típica mocinha pura, inocente e bondosa. Embora tivesse sim inocência e bondade dentro de si, também possuía seu lado obscuro, capaz de coisas que nos chocam. É uma personagem complexa. Não sei bem se a amo ou odeio. 

- Tristão, por sua vez, apesar de também ter uma personalidade e tanto, possuía valores que Isolda desconhecia. Sua lealdade e compaixão eram enormes. E do mesmo modo que o amor louco dela a levava a extremos, a loucura de Tristão tornava ainda mais verdadeiro e puro o seu amor por ela. O sentimento não o levava a fazer o que era ruim, pelo contrário, quanto mais a amava melhor ele se tornava. Se tem um personagem que admirei até o final foi ele. Ele traiu seu rei, é verdade, mas nunca teve a intenção, nunca deixou de respeitá-lo e amá-lo. Seu único pecado foi se apaixonar. E se considerarmos “a poção”, culpa nenhuma ele teve. É verdade que não acredito em poções mágicas, feitiços capazes de fazer pessoas se amarem, mas entendo a época em que a história surgiu e a intenção de quem a contou de tornar inocente, involuntário, o amor entre o casal. Como dois meros mortais poderiam lutar contra um sortilégio, não é mesmo? 

- O livro é bem curtinho, a edição que possuo tem 128 páginas, e dá para ler de uma tacada só. Levei dois dias para concluir a leitura porque não tinha tempo de pegar no livro. Só consegui finalmente sentar para lê-lo em paz no sábado e aí fluiu naturalmente, em poucas horas tinha terminado. Gostei muito de conhecer esta lenda. Diferente da tragédia de Shakespeare em sua peça Romeu e Julieta, a história de Tristão e Isolda possui mais consistência, profundidade, carisma. Além das escolhas deles serem bem distintas. 

Esta versão da lenda foi escrita por Fernandel Abrantes, baseada nos fragmentos de Béroul, Thomas (troveiro anglo-normando do século XII), Gottfried de Von Strassburg, e nos trabalhos de J. Bédier.

Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

3 comentários:

  1. Oi Lua!
    Já ouvi falar muitas vezes desse casal, mas confesso que são sempre frases soltas e nunca a história em si. Acho interessante o fato de ter se perdido o escrito, e mesmo assim a história ser conhecida por nós! Gostei muito da dica, vou colocar na listinha.

    Beijokas

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  2. Olá, Kelly!

    Também achei isso bem interessante. A versão original ficou perdida no tempo, mas foram feitas tantas versões que a história se eternizou. É como muitos contos de fadas que nem fazemos ideia de como eram originalmente, que ninguém sabe precisar onde surgiu ou quem criou, mas aí os irmãos Grimm criaram suas próprias versões e veio a Disney torná-las inesquecíveis.

    Bjs!

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  3. Oii! Gostei muito da sua resenha! Eu já gosto da história de Romeu e Julieta e de todas as versões então esse já vai entrar pra minha lista!! Beijos

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