26 de maio de 2017

Cantiga de Esponsais - Machado de Assis (conto)

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Contos Escolhidos - 3/30

Machado de Assis é um dos mais renomados contistas da literatura brasileira. Transitando entre os diversos tipos de contos - do tradicional ao moderno -, seus textos são originais e complexos. São contos cheios de acontecimentos intensos - quase sempre envolvidos num clima de tensão -, repletos de personagens polêmicos e ambíguos e de jogos e armadilhas textuais que induzem à dúvida, relativizando a maior parte das ideias e levando o leitor a refletir sobre suas "certezas". 



Palavras de uma leitora...


- E aqui estou eu de novo hablando de cuentos.rs A culpa não é minha, gente. O Machado de Assis simplesmente me enfeitiçou com contos tão perfeitos e irresistíveis! Já sei que em breve serei fã incondicional deste escritor maravilhoso. 

"Quem não conhecia mestre Romão, com o seu ar circunspecto, olhos no chão, riso triste e passo demorado? Tudo isso desaparecia à frente da orquestra; então a vida derramava-se por todo o corpo e todos os gestos do mestre; o olhar acendia-se, o riso iluminava-se; era outro."

- Este conto nos leva ao início do século XIX, ano de 1813. Somos apresentados ao nosso triste protagonista, conhecido por todos como mestre Romão. Alguém muito querido pela Igreja e os vizinhos, mas que sentia um vazio em seu interior. Uma necessidade que lhe roubava a alegria. 

"[...] mas a verdade é esta: a causa da melancolia de mestre Romão era não poder compor, não possuir o meio de traduzir o que sentia." 

Ele amava a música. Como poucos. Era nela que encontrava consolo e agonia. Felicidade e profunda tristeza. Preenchimento e vazio. Sim, sensações, sentimentos contraditórios, mas que estavam sempre presentes. Porque sua maior angústia era o fato de não conseguir expressar, colocar em palavras as composições que estavam em seu interior, em sua alma. Era não conseguir passá-las para o papel e então tocá-las para que o mundo conhecesse aquelas melodias que tocavam em sua mente. 

"Parece que há duas sortes de vocação, as que têm língua e as que a não têm. As primeiras realizam-se; as últimas representam uma luta constante e estéril entre o impulso interior e a ausência de um modo de comunicação com os homens."

E como se não bastasse o sofrimento de ser apenas um intérprete das composições de outras pessoas, quando sua alma fervilhava com diversas ideias, om várias melodias, o pior de tudo era jamais ter conseguido terminar um canto esponsalício, um que começara tantos anos antes, poucos dias depois de casar-se. Um que gostaria de ter dedicado à mulher da sua vida. E se na vida tivesse a chance preciosa de concluir apenas uma composição, seria aquela.  

- Até agora este foi o conto com o qual mais me identifiquei. O mais triste e maravilhoso que li. Talvez todo escritor, profissional ou não, já passou por uma fase de bloqueio. Você tem a inspiração, sabe exatamente o que quer transmitir e como quer fazê-lo, mas na hora de colocar no papel... não sai! Ou, às vezes, até sai, mas não da maneira que você queria. Não daquele jeito que você imaginou, que deseja. Ai, gente! Eu já vivi isso tantas e tantas vezes.kkkkkk... Teve um trecho do conto que me deixou os olhos cheios de lágrimas, pois parecia que eu estava realmente na pele do protagonista, sentindo o que ele sentia. E como o compreendi! É realmente desesperadora a sensação de inutilidade, de incapacidade que tal bloqueio provoca. O que o mestre Romão sentia é completamente compreensível e muito triste. Não desejo isso para ninguém.

E o final do conto? Não quero ser uma estraga-prazeres e contar tudo. Só posso dizer que queria que terminasse de outra maneira. 

"Como um pássaro que acaba de ser preso, e forceja por transpor as paredes da gaiola, abaixo, acima, impaciente, aterrado, assim batia a inspiração do nosso músico, encerrada nele sem poder sair, sem achar uma porta, nada."


Contos anteriores:

Missa do Galo
Conto de Escola


Se você está lendo esta resenha agora, então já é sexta-feira, dia 26/05/2017.kkkkkkk... Ou, talvez, algum dia depois desta data.rs Se viu um aviso logo no lado direito do blog, bem no início da página, sabe que as resenhas agora terão dias pré-fixados: toda segunda, quarta ou sexta-feira. Ocasionalmente, publicarei algo sábado e domingo. Esta é uma forma de me obrigar a ler mais. Estou lendo pouco demais para o meu gosto e quero me reorganizar para mudar isto. :) Sei que sou bem louca, pois tenho que estudar, trabalhar, escrever meus próprios textos (livro, contos etc), ler, resenhar, atualizar a rede social do blog, responder emails, assistir novelas, filmes, três séries e fazer várias outras coisas.kkkkkkkkk... Aí ouço alguém dizer: "Não leio porque não tenho tempo" ou "Não leio porque não tenho o tempo que você tem pra ler" e sinto imensa vontade de esganar a pessoa.rs 

Como hoje (dia 24/05/17) quero escrever e publicar o texto para o tema do Projeto Escrevendo sem Medo, esta resenha só estará disponível na sexta-feira. 

Bjs! 

Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

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